“Acabei de chegar da escola, fizemos três provas e acabou. Escola nunca mais! #felizdemais”
Essa foi a mensagem de Giovanni em seu Twitter, há pouco mais de um ano, no dia 24 de novembro de 2011. No dia 26 de novembro de 2012, no mesmo espaço, ele publicou: “Obrigado senhor! Graças a Deus estou na lista do Mundial”.
Graças a Deus e à sua escolha. Aos 18 anos, o samurai caçula do Corinthians teve sua vida transformada de uma hora para outra. De um ano para outro. Sua preocupação no fim de 2011 era disputar a Taça São Paulo de Juniores, uma responsabilidade para quem havia acabado de mudar de categoria: do sub-17 para o sub-20. Tempo de incertezas, até mesmo em relação a pisar num gramado, um dia, como profissional.
Agora, no fim de 2012, ele pode ser um dos 23 jogadores a escreverem seu nome na história, no segundo título mundial do Timão. 23 jogadores únicos. Uma oportunidade que ele decidiu abraçar, abrindo mão da Seleção.
Giovanni seria convocado para o Sul-Americano Sub-20, e teria de se apresentar justamente em dezembro. A decisão de dizer “não” foi amadurecida durante um mês, em conversas com os pais, Alberto e Silvana. Mesmo ciente de que as chances de entrar em campo com a Seleção seriam bem maiores do que no Mundial.
– Começou a sair na imprensa que eu estaria entre os nomes para o Mundial. Eu trabalho no Corinthians todos os dias, e meu sonho era ir pro Mundial. Conversei muito com meus pais e chegamos à conclusão que seria melhor. Falei com o Edu (Gaspar, gerente de futebol), ele conversou com o Tite, e graças a Deus esse sonho vai se concretizar.
Japão… Uma viagem que o adolescente jamais imaginou fazer. Outro mundo, realmente, para quem há pouco tempo sofria para pegar metrô e ônibus sozinho até Itaquera, e deixava a mãe desesperada em Sorocaba, cidade do interior paulista onde o jovem nasceu e cresceu. Giovanni jogou bola despretensiosamente até os 14 anos, como qualquer garoto de sua idade. Na escola, nas quadras de rua… Mas seu pai conhecia um diretor do Corinthians, que lhe ofereceu uma inscrição para a peneira do clube.
Por telefone, veio a ordem de apresentação: venha ser testado nas manhãs de quarta-feira. Logo, Giovanni foi integrado ao time sub-15 para três meses de testes. Três meses que viraram quatro anos. Do Timão, ele não sairia mais.
A decisão de sair de casa, aos 14, foi difícil, e novamente tomada após muitas conversas. Mesmo divorciados, os pais participam ativamente da vida do filho.
“Meu único medo é acontecer alguma lesão que me atrapalhe, mas isso é do meu trabalho. É a única coisa que me assusta”
– Se eles falam que é bom para mim, eu vou. Se falam que é ruim, não vou. Minha decisão depende sempre deles, eles são tudo, a base para mim.
Normal que Giovanni se venda como um garoto obediente, mas ele também tem seus instantes de “rebeldia”. Silvana, por exemplo, não aprovava sua vinda, mas ele bateu o pé, com o apoio de Alberto. E mais forte ainda foi a pressão dela para que o filhote voltasse a Sorocaba após ser assaltado no caminho até Itaquera. Um prejuízo de 50 reais, um celular e todos os documentos.
Naquele momento, o garoto já estava decidido: seria jogador de futebol. Não voltou. A resposta talvez fosse diferente no início de sua trajetória no Corinthians. Após o primeiro fim de semana sem poder voltar para sua família, Giovanni entrou em depressão. O que o tirou da tristeza foi escutar histórias de outros garotos, que moravam muito mais longe, em outras regiões do país, e talvez só vissem os familiares uma vez por ano. Os 101 quilômetros que separam a capital de Sorocaba se tornaram muito mais amenos.
Em 2009, depois de ser cortado de três competições consecutivas, Giovanni chegou a quase fraquejar mais uma vez. Pensou em desistir. Dessa vez, quem estava mudada era a mãe, que lhe deu força. A mudança de técnico na base foi o combustível final para o jovem emplacar: titular em 2010, 2011, destaque no título da Copa São Paulo de 2012 e um inesperado chamado para o time profissional. Para ser companheiro de time do ídolo Douglas.
– Quando cheguei aqui, em 2008, gostava muito do Douglas. Ele é muito inteligente, dá poucos toques na bola, finaliza bem. É um cara em quem me espelho, e hoje toco a bola para ele, ele toca para mim… Não tem explicação.
Tite é conhecido por sua seriedade, pela justiça e pelo uso da meritocracia. Se Giovanni vai ao Mundial com 18 anos e apenas um gol no time profissional, algo nele o treinador enxerga. Talvez o fato de que desde a promoção à equipe principal, o caçula nunca mais tenha saído de casa para as baladas tão desejadas pelos jovens. Seus programas são amenos: restaurantes, filmes e novela com Natália, sua namorada há nove meses, e também sua “segurança”.
A garota está sempre presente nos jogos do Pacaembu, de olho no assédio a Giovanni. Cara de bom menino, cabelo espetado (que fez questão de olhar no espelho antes da entrevista), roupas da moda, futuro brilhante… O meia do Corinthians tem características que iluminam os olhos das meninas e marias-chuteiras de plantão.
– Ah, elas falam no ouvido, passam o telefone, pedem para assinar a camisa do lado do peito… Tem de saber lidar. Trato com educação, mas se quiser algo mais, corto na hora. A Natália está em todos os jogos, se eu fizer alguma coisa, tomo dura em casa (risos).
No mesmo ano em que foi dispensado do exército e ainda nem conseguiu tirar sua carteira de motorista, Giovanni pode fazer história. Tudo fruto de sua vontade, palavra que, segundo ele, resume seus 18 anos bem vividos.
– Tem que ter muita vontade, passamos algumas dificuldades na base, no terrão, é preciso superar muitos desafios. Então podem esperar muita vontade de mim. Posso não estar bem tecnicamente, mas se precisar dar carrinho e jogar o adversário para fora do campo, vou fazer.