Há 36 anos chegava ao fim a espera mais compassada da História do Corinthians. Após 23 anos de angustia, sorrisos contidos e corações pesados, Basílio nos salvou de um longo e tenebroso inverno sem podermos soltar o grito de “É CAMPEÃO!”
Apesar de não ter vivido o período, posso imaginar a tensão dos anos e o peso que estava acumulado sobre o manto do torcedor corinthiano e aqui temos que considerar a situação histórica de um povo que ainda estava longe das conquistas sociais mínimas e que vivia sob o domínio violento da Ditadura Militar.
A opressão social, a identificação com a história da criação do Corinthians, a sabedoria popular que falava algo sobre “quanto mais difícil, melhor” e a sucessão de tentativas frustradas criou um paradoxo interessante, pois foi justamente no período de grande jejum de títulos que sua torcida mais cresceu em identificação e devoção.
O passar das temporadas, campeonatos e anos foi ganhando contornos dramáticos e foi aqui que o “sofredor” tomou corpo como parte nossa, graças a Deus. Em 1977, depois da Invasão Corinthiana do ano anterior, todas as esperanças foram renovadas “agora é”, “agora vai”!
Sabemos que o futebol é “um jogo”e que não se ganha sempre, mas jejum de título é algo muito complicado principalmente se existe o planejamento, o empenho dos jogadores e a força da torcida. Esperamos nunca mais passar por algo do tipo e saudamos fortemente a geração anterior que suportou a ditadura, a longa fila e o sem número de provocações “dos antis” com garra e esperança de dias melhores. Eles vieram!
As reportagens, textos e vídeos do título contam a dramaticidade de partida, o nervoso evidente dos jogadores e da torcida que até o hoje é público recorde no local em que o segundo jogo da final foi realizado. Podemos ver, após o gol, a catarse coletiva e todo o peso do mundo sendo convertido na leveza de uma pena de gavião.
Podemos imaginar quantas e quantas promessas começaram a ser pagas com a maior satisfação e sentimento de gratidão, imaginar a manhã seguinte ao título e toda a euforia daquele período.
Há algum tempo, tive a feliz oportunidade de encontrar o Basílio. Sou muito tímida e, diante de todos que o cercavam, fiquei olhando aquele homem que libertou toda uma nação e pensando em perguntar se ele tinha a real dimensão do seu feito, chegou a minha vez: olhei no fundo dos seus olhos, apertei forte a sua mão, agradeci e sorri… Magia e encantamento não podem ser mensurados.
FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS: Tobias, Zé Maria, Moisés, Ademir e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano; Vaguinho, Geraldão e Romeu. Téc.: Oswaldo Brandão
PONTE PRETA: Carlos, Jair, Oscar, Polozi e Ângelo; Wanderlei, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Rui Rei e Tuta (Parraga). Téc.: José Duarte
Local: Estádio do Morumbi – São Paulo (SP)
Data: 13/10/1977
Árbitro: Dulcídio Wanderley Boschillia
Público: 86.677
Renda: Cr$ 3.325.470,00
Gol: Basílio (36 – 2º)