23 Guerreiros

02/12/2012

信じる Felipe 信じる 23 Samurais 戦士 Guerreiros Do Mundial 2012

 

 

Tite só apresentou sua lista para o Mundial de Clubes na última segunda-feira, mas Felipe havia feito a sua semanas antes. O assunto começou a esquentar, o prazo para anunciar os inscritos se aproximou, e o zagueiro não teve dúvidas. Sem pedir licença, pegou papel, caneta, e definiu os seus 23 samurais. Com olhar baixo, examinou sua relação, e logo a descartou, desiludido. Pois é. Felipe não estava na própria lista do Mundial. Mas, surpreendentemente, estava na que importa: a de Tite.

Há pouco mais de um mês, era insanidade imaginar o zagueiro no Japão. Era loucura até imaginá-lo no Corinthians em 2013. Tite já havia dito a ele, e até mesmo publicamente, que Felipe seria emprestado no ano que vem para ganhar experiência. Mas o dia 20 de outubro mudou sua vida. A atuação no empate diante do Bahia, quando entrou no lugar de Wallace ainda no primeiro tempo, convenceu o técnico de que ele não apenas poderia continuar na equipe e ser mais utilizado, como também ir ao Mundial.

– Mudou tudo porque ele precisou de mim no último instante. Fiquei muito desanimado quando o Tite veio conversar comigo e disse que eu precisava ganhar experiência, era novo, tinha muito a aprender. Eu já tinha na cabeça que seria emprestado. Mas depois desse jogo ele veio me dizer que eu estava preparado, e ele iria me utilizar. Vi que tudo estava dando certo.

Felipe foi um dos dois únicos jogadores relacionados pelo comandante para o Mundial a ter escolhido um verbo para definir sua vida: acreditar. E quem ouve sua história entende perfeitamente o porquê. Além da surpresa de ir à competição mais importante do ano, é quase inacreditável que ele seja jogador de futebol. Basta imaginar que a delegação que vai ao Japão terá um jogador de 18 anos. Felipe, com essa idade, nunca havia pisado num gramado de maneira oficial. E aos 20 trabalhava no mercadão com sua sogra, entregando cogumelos.

Hoje zagueiro, ele na verdade nem gostava de jogar bola quando era criança, num prédio da Cohab (Companhia Habitacional) no bairro de Cidade Tiradentes, em São Paulo. Seu passatempo preferido era empinar pipa, mas o pai queria vê-lo no futebol. Por isso, com amigos, construiu uma quadra num terreno vago do prédio em que moravam. O filho gostou e passou até a buscar escolinhas, rotina mantida quando a família se mudou para Mogi das Cruzes, no interior paulista, em busca de mais segurança para a criação de Felipe e suas duas irmãs.

Lá, o menino descobriu, involuntariamente, que havia nascido para ser atleta: jogava vôlei, basquete, andava de skate e fazia manobras de bicicleta. Passatempos. A paixão já era mesmo o futebol. Aos 14 anos, passou dois meses em testes no Corinthians. Dispensado, teve um dia para pegar autógrafos e tirar fotos com os jogadores da equipe profissional. Frustração ao ver que Liedson, ídolo da época, já havia sido negociado com o futebol português. Felipe foi embora sem o autógrafo e sem a esperança de um dia voltar ao clube.

– Quando cheguei aqui, no início deste ano, o Liedson ainda estava e até contei para ele sobre esse episódio. Quem diria, jogar ao lado dele depois daquilo… -reflete, com seu jeito tímido e fala mansa.

Felipe jogava futebol no time da Valtra, uma empresa de tratores de Mogi das Cruzes que fechou uma parceria com o União Mogi. Pouco antes de completar 20 anos, ele disputou um campeonato de base pelo clube, mas foi de lá para o trabalho pesado com a mãe da namorada.

– Eu pensava que já estava muito tarde para começar, né?

A rotina no mercadão não era das mais amenas: Felipe acordava às 3h40 da manhã, e a partir das 7h começava a entregar todas as espécies de cogumelos em restaurantes e bufês. Às 12h, voltava para casa e passava quase o dia todo dormindo. O salário de 660 reais dava para, ao menos, pagar um ou outro almoço para a namorada Bianca. Quando ele já não se imaginava no campo, o União Mogi o convidou para voltar e jogar a Série B do Campeonato Paulista: a quarta divisão.

Felipe aceitou na hora, mas se precaveu contra um novo desemprego no futebol. Preparou um DVD com seus jogos. Ao fim do campeonato, a superprodução chegou às mãos do técnico Marcelo Veiga, à época no Bragantino, que pediu sua contratação imediata, fascinado por sua eficiência nas bolas paradas, o que também despertou interesse do Corinthians.

– Eu treinava muito impulsão no basquete, usava pesinhos nas pernas, acho que isso me ajudou.

Em Bragança, ele morou com os demais atletas num prédio oferecido pelo clube, onde só tinham de pagar a conta de luz. Os boatos de que iria para o Corinthians surgiram no meio da competição, e torcedores chegaram a lhe cobrar: não faça corpo mole! Felipe disputou 33 partidas, não se lesionou e, nove anos depois da dispensa, de não conseguir se encontrar com Liedson, voltou ao Timão. Pela porta principal.

Entre os companheiros de Corinthians, o zagueiro tem fama de não saber brincar. Até mesmo no rachão, treino em que todos os jogadores se misturam e descontraem na véspera dos jogos, ele atua de cara feia e forma séria. Talvez por isso Tite tenha mudado de ideia.

Acreditar… Felipe acreditou sempre, e acredita no título mundial. Para ele, o Timão é superior aos outros times do Mundial.

– O Corinthians tem muitos jogadores de qualidade. O Chelsea também tem, mas acho que estamos acima.



Sobre o Autor

Pablo
Coordenador de Suporte, Governador da República Popular do Corinthians e Louco pelo Timão!




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