23 Guerreiros

01/12/2012

克服する Jorge Henrique 克服する 23 Samurais 戦士 Guerreiros Do Mundial 2012

 

 

 

O que pode mudar a vida de uma pessoa? No caso de Jorge Henrique, um telefonema. Uma conversa com a mãe. Uma demonstração de força. Era 2003 quando o baixinho, então com 21 anos, foi até o orelhão do Náutico e ligou para dona Sebastiana, em Resende, interior do Rio de Janeiro. Disse a ela que queria ir embora, pois não aguentava mais ganhar e comer mal, ficar longe de casa e da família. Ele pensou que ouviria um “venha”, mas foi surpreendido com um contundente “fique aí!”.

Naquele dia, o atacante estava disposto a encerrar a carreira precoce, desistir do futebol e matar a saudade do arroz com feijão de casa. Mas a mãe não deixou que o único rapaz, entre as seis crianças que teve, abandonasse o sonho.

“Não gosto de aparecer, gosto de fazer meu trabalho e ficar na minha. Receber elogios é sempre bom, mas procuro apenas fazer meu trabalho bem feito”

– Eu não estava aguentando mais e pedi dinheiro para ir embora, mas ela falou que não tinha, e não ia pedir para ninguém, para que eu ficasse lá. Eu acho que ela tinha, mãe sempre dá jeito para as coisas, né? Mas disse que eu precisava ficar, não podia desistir do meu sonho. Hoje, ela me conta que desligou o telefone e chorou um monte. E para mim também foi um pouquinho duro escutar aquelas coisas.

Até chegar ao Náutico, Jorge Henrique cresceu com traços de personalidade bem definidos. O jogador que veste a camisa do Corinthians, irrita os adversários, provoca, gosta do choque e não foge das pancadas já era assim desde menino. No início do Campeonato Brasileiro, foi eleito o atleta mais chato da competição numa pesquisa realizada pelo GLOBOESPORTE.COM e pela revista “Monet” com os jogadores.

Não foi à toa. Nas ruas de Resende, era comum vê-lo jogar futebol, mas raríssimo com garotos de sua idade. Ele não via graça em enfrentar gente do mesmo tamanho. Preferia apanhar, enxugar as lágrimas e continuar infernizando a vida dos grandalhões.

– O jogo era mais pegado, mais bonito, os mais velhos desciam a porrada. Eu gostava de ir pra cima dos meninos. Eles batiam, eu não estava nem aí. Apanhava, chorava um pouquinho e ia pra cima de novo. Sempre fui rapidinho (risos).

A valentia, aliada à habilidade, fez com que, aos 17 anos, Jorge tivesse uma oportunidade de fazer testes em Portugal, pelas mãos de um grupo de empresários. Como era menor de idade, teve de esperar dois anos para dar os primeiros passos rumo ao estrelato. Em 1999, ele foi um dos sete jovens selecionados para um período de uma semana de experiência no Sport. Uma semana terrível, a ponto dos outros seis voltarem correndo para Resende.

Hoje, o jogador só tem contato com dois desses antigos amigos: um trabalha no shopping de Resende e outro é preparador de goleiros do time da cidade. Jorge Henrique foi o único que resolveu continuar no Recife, e bateu à porta dos Aflitos, casa do Náutico. Aprovado, passou a ganhar 350 reais por mês e viver no alojamento. As condições precárias foram o maior obstáculo para que ele continuasse no futebol. Por vezes, a fome foi companheira do sono. Era pão no almoço, pão na janta.

Tudo começou a melhorar quando o rapaz conheceu aquele que viria a ser o melhor amigo entre tantos companheiros de ataque: Kuki, ídolo do Timbu, 11 anos mais velho, “adotou” Jorge Henrique, e a amizade fora de campo levou a um acordo dentro dele: por cada passe que resultasse em gol de Kuki, o jovem ganharia mil reais. Uma fortuna! O dobro de seu salário na época. Jorge praticamente treinava para dar gols ao parceiro.

O entrosamento fez seu jogo crescer e despertou interesses. Jorge Henrique passou por Atlético-PR e Ceará, ambos sem grande brilho, até que, com salário atrasado no clube do Nordeste, decidiu voltar para o Recife, morar na casa da mãe da noiva e arriscar tudo no Santa Cruz: cinco jogos na reta final do Brasileirão, também sem receber, e já rebaixado. Tudo para chamar atenção dos grandes. Deu certo.

– Eu arrisquei. Dei um passo atrás para depois dar dois à frente. Já conhecia o Givanildo, então cheguei como titular. Fiz um bom jogo contra o Botafogo no Maracanã, e eles me contrataram.

No Alvinegro carioca, e depois no Corinthians, Jorge Henrique ganhou fama definitivamente, e no mesmo pacote, aquilo que talvez mais o incomode: falta de privacidade. Ele não suporta ficar em casa, adora a rua, mas, jogador de time grande, sofre com o assédio. Esse é um dos motivos para torná-lo quase inacessível às entrevistas.

A assessoria de imprensa do Timão já havia avisado que Jorge, possivelmente, daria trabalho para atender à série dos “23 samurais”. Não deu tanto. Concedeu entrevista com ótimo humor, sorriso aberto e sem nenhuma vergonha de falar do passado difícil. Mas admitiu não ser um dos maiores fãs do contato com os jornalistas. Tudo pelo sonho do anonimato, que, entre outras razões, tem uma difícil de acreditar: o desejo de conhecer a famosa Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. Paraíso das compras, ela recebe multidões que mal respiram ou andam. Jorge nunca foi, mas sabe o caos que provocaria, já que nem no shopping, seu passatempo favorito, ele consegue caminhar tranquilamente.

– Isso me incomoda bastante porque sou simples, gosto de rua, fazer coisas normais como todo ser humano. Já coloquei uma peruca “black” para ir a um carnaval, em Olinda, mas não deu certo, me reconheceram. O lugar que mais fico tranquilo é na casa da minha mãe, em Resende. Só não posso mais fazer minha batata-doce na brasa, na fogueira da rua, por causa da violência. Mas um dia ainda vou voltar a fazer e te mando uma foto (risos).

Desde o ano passado, Jorge Henrique passa por um vaivém no time titular do Corinthians, mas é um dos símbolos de Tite para conquistar o título mundial no Japão. Símbolo de garra, de identificação e de superação, palavra escolhida por quem engoliu o choro, e resolveu seguir em frente, para explicar sua vida.

– Depois de tudo que passei na vida, e tudo que conquistei hoje, em dezembro posso conquistar ainda mais o carinho do torcedor. Seria o reconhecimento de um trabalho, de anos de dificuldade que passei na vida. Em dezembro, poderei tornar tudo isso alegria para mim e a nação corintiana.



Sobre o Autor

Pablo
Coordenador de Suporte, Governador da República Popular do Corinthians e Louco pelo Timão!




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