Se o Corinthians fizer um gol no Mundial de Clubes, reparem bem na posição de Fábio Santos no momento do lance. É muito provável que o lateral-esquerdo esteja do meio-campo pra frente. Até porque, se ele não estiver no campo ofensivo, o gol não sai. Não sai de jeito nenhum!
Essa é apenas uma das maluquices do maluco mais normal que existe. Sentar-se a uma mesa com Fábio Santos é garantia de um dos melhores papos possíveis. Ele conversa sobre tudo, é descontraído, inteligente, fala alguns palavrões com espontaneidade, como a maioria dos jovens de 27 anos… Até o momento em que suas manias viram assunto. É quase inacreditável que o homem aparentemente tão comum seja capaz, por exemplo, de brincar com três joguinhos de celular e passar por todos os canais da televisão, religiosamente, toda noite, antes de dormir. Os controles remotos também precisam ficar lado a lado.
– Sou um louco controlado (risos).
No Japão, país onde já morou por um ano quando jogou no Kashima Antlers, e adorou, o camisa 6 do Timão vai dar pouco trabalho às camareiras do hotel. É que, entre seus transtornos obsessivos compulsivos, nome oficial dos famosos TOCs, está a limpeza do quarto: antes de sair, as toalhas têm de estar dobradas e penduradas, a cama organizada, luz apagada e televisão desligada.
Dentro de campo, Fábio Santos arruma as meias de dois em dois minutos. E precisa estar sempre adiantado para o Timão fazer gols. Mas e se o adversário conseguir um contra-ataque, Fábio?
– Aí f…. . Tenho de sair correndo (risos).
Manias à parte, Fábio Santos exala paz. Não gosta de multidão, balada, gritaria, e encontra no sofá de sua casa o grande parceiro para as horas livres. As novelas e o computador são o passatempo, além de cinema e teatro, vez ou outra, com sua esposa. Nem sempre foi assim. A criança deu muito trabalho aos pais. Teve fraturas e tomou pontos no corpo inteiro. Alguns na cabeça, quando jogou futebol na garagem, bancou o goleiro, arriscou uma ponte e deu de encontro com uma viga de concreto.
O comportamento mudou graças a uma surra, durante um jogo de adolescentes. As dores serviram para traumatizar e pacificar o garoto.
– Eu era briguento, chato, arrumava confusão com tudo. Eu sempre andei com os mais velhos, estava na cara que me daria mal se arrumasse briga. Tomei um pau, pra nunca mais. Fui folgado, derrubei o cara, ele levantou e me deu uma bica… Nunca mais briguei. Quer dizer, em jogo de infantil e juvenil tem briga mesmo e você tem de sair dando porrada, senão apanha. Mas criar tumulto, nunca mais.
Essas são algumas das primeiras lembranças que Fábio Santos tem do futebol, paixão que nasceu praticamente do ventre, junto a ele. A ponto dele jurar ter falado “bola” antes de “papai” ou “mamãe”. Era tudo que ele queria de aniversário, Natal ou dia das crianças: bola, bola, bola… Como o pai Nando trabalhava, era a mãe Nice que carregava o filho pra cima e pra baixo, de ônibus, já que não dirigia. Aos seis anos, ele começou a jogar de maneira mais séria, no Tietê, clube da capital paulista. Fábio Santos nasceu na Zona Norte de São Paulo, e lá mora até hoje. E de lá não tem a menor intenção de sair.
Num campeonato interno, aos sete anos, fez um gol de pênalti no último minuto e correu para abraçar a mãe. Momento decisivo para, hoje, ele ser um dos samurais corintianos em busca do bicampeonato mundial.
– A quadra estava cheia, a sensação que senti ali era a de que queria aquilo para mim. Toda aquela adrenalina, eu era uma criança, nem sabia o que estava fazendo. Na verdade, seria uma grande decepção se eu não fosse jogador de futebol. Nunca pensei em outra coisa.
Aos nove anos, Fábio Santos entrou no Pequeninos do Jóquei, tradicional clube revelador de bons atletas. Em seguida, aos onze, já estava no São Paulo. Precoce, aos 17 já atuava no time profissional. Carregou nos ombros a expectativa de se tornar um grande jogador, e depois a culpa pela eliminação na Libertadores de 2004. Uma derrota traumática para o Once Caldas, da Colômbia, que gerou muitas vaias, lágrimas da mãe no estádio, e praticamente sepultou sua chance de êxito no Morumbi.
Precoce também na vida pessoal. Ele se casou em 2008, com 22 anos, quando a namorada Fernanda engravidou de Eduarda, primeira filha do lateral, que também é pai de Leonardo, de nove meses. Dentro de campo, foi um período difícil, de passagens breves e sem brilho até chegar ao Grêmio. Lá, reencontrou Paulo Autuori, seu técnico no São Paulo e no Kashima, e também seu futebol. O interesse do Corinthians marcaria a redenção definitiva.
O título da Libertadores e a convocação para a seleção brasileira sacramentaram o novo momento de Fábio, que pode sonhar, de verdade, com a Copa do Mundo de 2014, o que parecia uma causa impossível há algum tempo. Não é a toa que o jogador é devoto e tem uma tatuagem de Santo Expedito, justamente o que olha por missões muito difíceis de serem concretizadas.
Em 2005, Fábio Santos foi campeão mundial pelo São Paulo, mas nem entrou em campo. Agora será diferente. Homem de confiança do técnico Tite, ele pede que a equipe esteja unida como uma família. Família, aliás, a palavra escolhida por ele para resumir sua trajetória. Desde o trabalho do pai ao esforço da mãe, passando pela irmã de 13 anos o ensinando o caminho de ônibus até o clube, a parceria da esposa e o amor dos filhos. Agora, uma família de samurais para atingirem o objetivo maior: serem donos do mundo.
– Estou bem esperançoso de fazer um Mundial muito legal. Já tive a experiência de ir, agora quero jogar. Não sei se união vence, já vi time em que ninguém se falava ser campeão, mas temos de ser amigos, uma família, e vamos fazer de tudo para voltar com o título. Espero muita coisa boa.