侍Douglas 侍 23 Samurais 戦士 Guerreiros Do Mundial 2012
Douglas dos Santos 18 de fevereiro, 1982
Guerreiros do Mundial: Douglas, o ‘autêntico’ maestro do Corinthians no Japão
Meia garante ser uma pessoa autêntica, que sempre fala a verdade, e projeta a disputa do Mundial de Clubes no Japão, em sua segunda passagem pelo Corinthians.
Douglas dos Santos
18 de fevereiro, 1982
Começou tarde, aos 17 anos, no Criciúma. Teve passagens breves pelo futebol turco e árabe, jogou no São Caetano e no Grêmio, e brilhou no Corinthians, onde já acumula quatro títulos
texto: Alexandre Lozetti; vídeo: Sergio Gandolphi, Cassio Barco e Diogo Venturelli; foto: Marcos Ribolli; arte: Carlos Lemos
A equipe do GLOBOESPORTE.COM esperou por Douglas durante uma hora, na tarde mais quente dos últimos 13 anos em São Paulo, em uma sala do CT do Corinthians que mais parecia uma sauna. Atrasado, o meia entrou no ambiente com sorriso sarcástico.
– Pô, desculpa, aí! É que eu tava dormindo no ar condicionado, tava uma delícia…
90% dos jogadores inventariam uma palestra do técnico, um tratamento ou um atraso no almoço. Mas nada explica melhor sua personalidade do que sua sinceridade quase irritante.
– Ele é exatamente isso – disse Tite, sorrindo, ao saber do caso.
Douglas anda pelo CT sem camisa, faz piadas e debocha dos outros, da seleção brasileira e de si mesmo, quando diz que está ficando ainda mais chato com a idade. Não aceita brincadeiras de quem não conhece, mas agradece sempre ao falecido pai, João, por ter insistido para que fizesse o quarto e derradeiro teste no Criciúma.
Após três dispensas, aos 17 anos, Douglas não queria mais jogar bola. Baixa estatura, deficiência técnica… Várias eram as justificativas dos treinadores, mas a vontade do pai foi fundamental, aliada a outro fator muito importante. O jovem odiava estudar, tinha horror ao trabalho e não sabia fazer absolutamente nada.
– Eu apanhei muito por causa da escola. Jogava bola na sala de aula, era terrível. Odiava, estudei até a sétima série. Tentei trabalhar de servente, uma vez fui arrancar feijão numa roça e fiquei com a mão toda calejada. No dia seguinte o cara passou em casa para me buscar, nem levantei da cama. Até hoje, não sei fazer nada.
“Eu me acho inteligente em campo,
é difícil atuar na posição em que jogo.
Sou cobrado por jogadas que não dão certo, mas tenho personalidade suficiente”
Irmão de duas mulheres e dois homens, Douglas cresceu numa casa minúscula em Criciúma, interior de Santa Catarina. Os laços familiares eram quase obrigatórios, já que por muitas vezes tinham de dormir abraçados por falta de espaço. Os primeiros toques na bola foram dados num campo ao lado da mina onde o pai trabalhava. Aos oito anos, o menino esperava por João na porta de casa, com a bola na mão. Aos 15, pai e filho foram à escolinha do clube da cidade, mas só com quase 18 ele conseguiu ser aprovado, após cinco minutos de bate-bola.
Foram dois anos em que se repetiu o trajeto de ônibus, de 40 minutos, de casa até o clube. A ajuda de custo só dava mesmo para custear as passagens. Até que Cuca, hoje técnico do Atlético-MG, então no Criciúma, assistiu a uma partida do time de juniores, se encantou pelo canhoto e o levou aos profissionais. Até hoje, o abraço de Douglas no treinador é diferente, de gratidão.
Entre 2004 e 2006, a diretoria do clube catarinense rejeitou uma série de propostas pelo jogador. Só o São Caetano conseguiu dobrar o presidente, após um rápido empréstimo para o Rizespor, da Turquia. Nem Douglas entende o porquê, mas até hoje festeja a mudança. Segundo ele, em nove meses no ABC paulista, ele apareceu mais do que em todos os anos de Criciúma. Apareceu tanto que foi para o Corinthians, onde venceria a Série B, em 2008, o Paulistão e a Copa do Brasil, em 2009, e teria o maior arrependimento de sua carreira: a saída para o Al Wasl, dos Emirados Árabes Unidos.