Começou a jogar futebol aos seis anos, e aos oito já estava no Corinthians. Depois de cinco cirurgias nos punhos, profissionalizou-se em 2008 e fez parte dos grupos que voltaram à Série A e conquistaram um Paulista, uma Copa do Brasil, um Brasileiro e uma Libertadores
Paciência. Paciência para perder dois anos da adolescência com quatro cirurgias no punho direito e uma no esquerdo. Paciência para se formar na faculdade de Administração, paralelamente ao futebol. Paciência para esperar três anos antes de ficar com sua grande paixão. Paciência para muitas vezes não participar nem dos coletivos, na função de terceiro goleiro. A palavra escolhida por Danilo Fernandes para resumir seus 24 anos de idade não poderia ser melhor. Foi essa paciência que o levou a ser um dos 23 jogadores que vão ao Japão, em busca do bicampeonato mundial do Corinthians.
Bom de papo, inteligente, o jovem passou dois terços de sua vida no Timão, desde que a escolinha de futsal onde atuava fez parceria com o clube. O menino de Guarulhos nem imaginava seguir carreira, mas, quando se deu conta, já agia como um profissional. Perdia as excursões de colégio para treinar de segunda a sexta e jogar nos fins de semana, já dividido entre salão e campo. Para levar o filho ao futebol enquanto o marido, metalúrgico, trabalhava, dona Maria das Graças teve de aprender a dirigir, e, com ela, Danilo viveu inesquecíveis aventuras num Gol (o carro) vinho.
– Minha mãe tirou carta, pegava o carro e ia pela Dutra, Marginal… Meu irmão se escondia no banco de trás, não queria nem ver. Mas o pior era depois do treino, para buscar meu pai no trabalho. A gente tinha de pegar a Fernão Dias, eu era criança, sozinho com ela, e o carro parava se passasse em alguma poça d’água. Um dia, estávamos parados, às onze e meia da noite, esperando o carro esfriar. Um breu do caramba, o combustível acabando. Era um sufoco – lembra Danilo, que acrescenta: o dinheiro do combustível, muitas vezes, era emprestado por amigos.
O rapaz virou goleiro por livre e espontânea pressão do professor e dos companheiros de time da escolinha. Como ninguém queria vestir as luvas, havia um rodízio, que terminou no dia em que Danilo fechou o gol e foi efetivado contra sua vontade. Aos poucos pegou gosto e, com 15 anos, foi convocado para a seleção brasileira de base. A empolgação levou à imprudência. Quase irresponsabilidade. Num jogo contra o Audax, ele machucou o punho direito e preferiu não avisar aos médicos. Quando a dor ficou insuportável, em vez de revelá-la, passou a usar mais a mão esquerda. Até que as duas ficaram comprometidas.
Depois de cinco meses, Danilo fez um raio-x numa clínica em Guarulhos e ouviu que teria de operar os dois punhos fraturados com urgência, sob o risco de perder o movimento das mãos. Além da bronca dos doutores corintianos, o adolescente passou por quatro cirurgias no punho direito e uma no esquerdo.
– Operei os dois no mesmo dia. No esquerdo eu coloquei um parafuso, e ficou bom. Mas, no direito, tive de fazer enxerto de osso, botei três pinos, fiquei três meses engessado, fiz mais quatro de fisioterapia, e ainda sentia muita dor, ele estava duro. A cirurgia abriu, voltei para colocar outro parafuso. A dor não parou, tive de fazer uma artroscopia. Voltei a treinar, senti dor. Dessa vez porque se formou um calo ósseo, e precisei fazer uma raspagem.
Foram dois anos sem entrar em campo, e com a incerteza sobre a carreira. O risco de não voltar era tanto, que Danilo chegou a ser convidado para treinar os goleiros da categoria infantil do Corinthians. Ele bateu o pé: queria jogar, e voltou perto do fim do contrato, já sem idade para atuar nos juniores. Seu futuro estava definido: seria o São José, do interior gaúcho. Mas um treino, menos de 45 minutos, e três boas defesas mudaram os planos. O preparador de goleiros Mauri viu, aprovou e avisou que seu contrato seria renovado.
– Eu fui para a praia no dia 26 de dezembro de 2007, e o Corinthians se reapresentaria nesse dia. O treinador de goleiros da base me ligou, e disse que o Mauri me queria lá no dia seguinte. Voltei na hora, passei o Reveillón num sítio em São Paulo e achei maravilhoso.
O medo de não voltar a ser jogador levou Danilo Fernandes a prestar vestibular e entrar na faculdade de Administração. Lá, bancou o “mala” ao não dar muito espaço a quem se aproximava dele só por ser goleiro do Corinthians, e também sofreu na mão de “malas”, como o professor palmeirense que não aceitava suas faltas em razão das concentrações.
Sem dúvida, a faculdade foi um passo que mudou sua vida. Num churrasco, ele conheceu Camila, com quem teve um relacionamento de idas e vindas até 2011, quando terminou um namoro para ficar com ela. O goleiro estava concentrado, no sábado, quando disse a Camila, por telefone: “Quero ficar com você!”.
Eles se casaram no último dia 8 de novembro. Data marcada pelo título da Libertadores, já que inicialmente o matrimônio ocorreria em 6 de dezembro. A lua de mel, nos Estados Unidos, também só será depois da viagem ao Japão. Problema algum para quem já foi tão paciente, e continua sendo.
Paciência é quase uma exigência para quem quer ser goleiro. Danilo Fernandes só fez sua estreia pela equipe principal três anos e meio depois de se profissionalizar. E agora divide com Julio Cesar, campeão brasileiro como titular em 2011, a sombra de Cassio. Em 2012, Danilo disputou oito partidas – seis oficiais e dois amistosos. Sabe que não vai entrar em campo no Mundial de Clubes, salvo algum grande acidente de percurso, mas jura que não perde a paciência e espera por um futuro glorioso. No Corinthians!
– Quando eu quero alguma coisa, vou atrás até o fim. Às vezes você não viaja, não faz nem coletivo, mas tenho de conviver com isso. E, com todo respeito, num time grande, em um jogo, você aparece mais do que se fizer um campeonato inteiro por um clube menor. Só que tem de ser “o jogo”. Precisa ter muita paciência, e eu tenho.